Ciclope

                       
 O Ciclope, escrito, conforme se acredita, antes de 425 a.C., é o único drama satírico que pôde ser recuperado integralmente na contemporaneidade. Por isso, é testemunho singular, capaz de demonstrar como se compunha esse gênero dramático na 
Antiguidade. Tal gênero, situado nos primórdios da arte teatral grega, era dedicado, como a Tragédia, ao deus Dioniso. 
 Contudo, esta tornou-se mais política (e política no
sentido de exclusiva do mundo da pólis) à medida que foi-se ocupando dos mitos heroicos próprios da Épica, ao passo que o Drama Satírico conservou claramente a força dionisíaca animal e primitiva graças à presença obrigatória dos sátiros (companheiros do deus do Vinho) no seu coro. Estes lhe conferiram a mistura entre o sério e o bufo, o que colocou esse gênero dramático entre a Tragédia (pela nobreza das mesmas personagens heroicas) e a Comédia (pela presença do riso malicioso e alegre dos sátiros e de sua licenciosidade natural).
Para compor seu drama, Eurípides se baseou no episódio do Canto IX da Odisseia em que Ulisses, retornando do árduo combate em Troia, vê-se desviado de sua rota de volta para Ítaca e, com seus companheiros, desembarca na ilha dos ciclopes.

Estes, já em Homero, são descritos como criaturas gigantescas e monstruosas que possuem apenas um olho no meio da testa.
A peça inicia-se com o desembarque de Odisseu e sua tripulação na ilha da Sicília, aos pés do Etna, para onde são lançados por fortes tempestades marítimas. Esse foi o reduto escolhido pelo dramaturgo para situar sua ação, já que a lenda hesiódica identificava-o como esconderijo das forjas de Hefesto (deus do Fogo), para o qual trabalhavam os ciclopes, artífices dos raios de Zeus. A partir de então, toda a encenação gira em torno dos protagonistas: o herói da Odisseia, Sileno (pai dos sátiros) e o
monstro Polifemo, rodeados pelo coro satírico. 





Os gigantes de um olho só são pintados por Eurípides como seres horrendos, disformes e incrivelmente brutos, de natureza selvagem e inclusive canibalesca.

PAIVA, Robert Kelly:"O universo do grotesco e do monstruoso retratado no Ciclope de Eurípides e na Centauromaquia de Ovídio", UFMG, 2009

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